24 Maio 2021
Atualidade
Considerada por todos uma das melhores de sempre, a IX Convenção da FNE, CONFAP e ANDAEP, de 22 de maio de 2021, decorreu sob o signo da Inovação, que não dispensa o analógico, mas funde-o com ambientes e estratégias digitais, num hibridismo educativo em busca de uma nova pedagogia, baseada na construção de presencialidades e de um novo ecossistema da escola, pois, como resumiu António José Moreira, da Universidade Aberta (UA), “o futuro da educação está onlife (na vida), não online”.
Depois da primeira cascata de depoimentos gravados de alunos em torno da importância da escola, coube ao Secretário-Geral (SG) da FNE, João Dias da Silva, desejar a todos um bom dia e apresentar o deputado Firmino Marques, Presidente da Comissão Parlamentar de Educação, Ciência, Juventude e Desporto. Aludindo ao tema da Convenção, “Pensar, Avaliar e Agir Com Inovação - Uma escola com menos papéis e com um papel cada vez mais importante”, Firmino Marques sublinhou que, no contexto da pandemia, os professores, alunos, pais e autarquias demonstraram uma elevada capacidade de adaptação e reinvenção e que precisamos agora de construir uma escola “sem fronteiras, de janela e portão abertos para o mundo”.
Por sua vez, João Costa, Secretário de Estado Adjunto e da Educação (SEAE), referiu que o vírus tirou-nos as certezas todas, incluindo a nossa relação com o tempo, que passou a ser a.C. (antes da Covid) e d.C. (depois da Covid). João Costa elogiou o trabalho dos professores e acentuou que “foi, é, tem sido e vai continuar a ser um momento de aprendizagem”, pois não podemos esquecer que, no ano passado, “tivemos três anos letivos num só: presencial, a distância e misto”. Num contexto que continua a pôr-nos à prova, urge pois “termos a voz dos alunos no centro do debate educativo”, nunca esquecendo “que a escola faz parte da resposta social”. Para o SEAE, “temos que nos orgulhar do sistema educativo português” que, de acordo com o SG da FNE, anseia pelas “melhores soluções, que são as geradas em Diálogo Social”.
Após nova cascata de depoimentos de alunos, José António Moreira discorreu sobre “A Escola digital emergente no Pós-pandemia”, com moderação de Manuela Machado (ANDAEP). O Professor da UA sublinhou que queremos um ADN digital, mas não podemos matar o analógico: “Fizemos um percurso de aprendizagem e formação imenso e agora temos que ter tempo para pensar e dar um salto qualitativo nesta escola digital, da qual desconhecemos ainda que configuração vai ter”. Certeza é que “queremos inovar pedagogicamente, construindo presencialidades na escola e na educação, num ecossistema diferente, sem invadir as casas”. Na opinião de José António Moreira, “o papel e a caneta podem perfeitamente trabalhar com telemóveis e tablets”.
O diálogo para o sucesso gira em torno do blended learning (com ambientes pedagógicos analógicos e digitais), pois “a pedagogia controla a tecnologia. Um professor analógico não é pior que um professor digital”. Para si, o grande desafio é o de uma “inovação sustentada e o de uma nova escola digital, muito híbrida, inclusiva, e com uma base física e analógica muito forte”.
Ciências da Educação não sabem tudo
Luís Borges Gouveia, Catedrático da Universidade Fernando Pessoa, apresentou, de seguida, “A Sala de Aula como um espaço de oportunidade num tempo pós-pandémico”, com moderação de Laura Rocha (FNE). Caracterizando de forma expressiva o uso e exploração acelerada do digital e o contexto de transição em que vivemos, historiou a evolução da sociedade da informação e do conhecimento, atribuindo-lhe três características e modificadores essenciais: o uso intensivo de computadores e redes, a informação que conta é digital e a organização que importa é a (sociedade em) rede, numa realidade em que as noções de tempo e espaço ganharam uma nova dimensão. A pandemia foi mais um evento Cisne Negro da humanidade a exigir mudanças de rumo, caindo num momento de aceleração da inovação nas tecnologias e nas suas aplicações, que transforma pessoas, organizações, o modo como nos relacionamos e a própria natureza das comunidades.
A transformação digital exige uma nova escola, onde o ensinar é sempre mais difícil que aprender ou trabalhar, num mundo em que os novos espaços de confrontação são ciberfísicos e onde o novo ativo são os dados. Este novo mundo exige abertura e tolerância por parte de professores, alunos e gestão das escolas, colaboração entre docentes, co-criar de conteúdos e estratégias, partilha de conhecimento e disponibilidade da comunidade educativa para aprender e recolher boas práticas, experimentar e inovar. Luís Borges Gouveia mencionou ainda três tendências para o ensino e aprendizagem pós-pandémico: adoção de modelos de aprendizagem híbridos, aumento da utilização de tecnologias de aprendizagem e desenvolvimento de uma valência do online.
Na parte da tarde, a IX Convenção começou por contar com duas prestações da Associação Zero, sobre “Que currículo para um mundo em mudança? A Educação Ambiental”: a de Francisco Ferreira, Presidente da Associação, e a de Susana Fonseca, moderados por Rita Nogueira (FNE). Ambos os convidados concluíram que precisamos, cada vez mais, “de uma forte ligação à terra e aos ciclos da Natureza”, que exige duas transformações essenciais: como convencer toda a sociedade a viver com muito menos e como promover a educação ambiental por toda a comunidade.
Por fim, o Professor Rui Trindade (Universidade do Porto) brindou a IX Convenção com a apresentação “A Construção do currículo no processo educativo”, com moderação de Cristina Paulo Cruz (CONFAP). Com muita fundamentação teórica, Rui Trindade explicou que falar de construir o currículo é perguntar e responder a três questões primordiais: o que se deseja que os alunos façam; o que se pode fazer para que os alunos façam, sejam e aprendam aquilo que se deseja que eles façam, sejam e aprendam; e de que modo se vai avaliar o que docentes e alunos fizeram.
Contextualizando o papel dos professores como decisores curriculares, Rui Trindade referiu que a pergunta que temos que fazer é de que modo é que a Escola se pode afirmar como um espaço de construção de Literacia, de literacia matemática, científica e estética, passando a mencionar os obstáculos e as possibilidades à centralidade curricular das literacias. A terminar, e na resposta à pergunta de um participante, afirmou que “há muita coisa nas Ciências da Educação que vamos ter que aprender, muita coisa que vamos ter que aprender a fazer”. Para todos os desafios, os professores são, em sua opinião, imprescindíveis e fundamentais.
O encerramento dos trabalhos pertenceu aos líderes das três organizações: Filinto Lima (ANDAEP), Jorge Ascensão (CONFAP) e João Dias da Silva (FNE). Todos consideraram a IX Convenção “muito desafiante para o futuro da Educação”, tendo o Secretário-Geral da FNE realçado que o caminho de uma escola em que o digital é complementar necessita de “valorização dos seus profissionais e de uma atitude - que não tem existido de parte do Governo - de diálogo social, negociação e concertação.
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