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2ª etapa - Caminho da Geira e dos Arreeiros


16 Junho 2025

Ação Social e Cultural

 2ª etapa - Caminho da Geira e dos Arreeiros

“Serra!

E qualquer coisa dentro de mim se acalma…

Qualquer coisa profunda e dolorida,

Traída,

Feita de terra

E alma.

 

Uma paz de falcão na sua altura

A medir as fronteiras:

-Sob a garra dos pés a fraga dura,

E o bico a bicar estrelas verdadeiras…”

Miguel Torga - Diário II (20 de Agosto de 1942)

 

2ª Etapa: Caldelas – Campo do Gerês

Iniciamos a etapa na vila termal de Caldelas, com o tradicional pequeno-almoço no belíssimo Parque das Termas, junto ao Complexo Termal. Fomos recebidos pelo Sr. José Almeida, Presidente da Junta de Freguesia da União das Freguesias Caldelas, Sequeiro e Paranhos, que simpaticamente nos abriu a Igreja Matriz dedicada a Santiago. Esta igreja foi reedificada em 1749, sob a égide de D. João V e com a generosidade de dois beneméritos locais. A torre sineira data de 1857. O seu interior é muito belo, dominado pelo estilo manuelino, destacando-se a beleza das suas imagens, incluindo de Santiago, assim como um belo vitral do orago.

Saídos da igreja, seguimos as setas amarelas, percorrendo as ruas estreitas e sinuosas que nos encaminham para um belo percurso sobranceiro ao Ribeiro do Alvite (que alimenta as Termas). Gradualmente o ruído das águas vai dominando entre o canto das aves e a nossa tagarelice… Junto à aldeia de Real, eis que termina a estrada junto a um imponente e belo edifício que o Google Maps refere como sendo a Antiga Fábrica de Real (*). Para continuar o caminho tivemos de atravessar um arco da magnífica casa, agora arruinada, embrenhando-nos adentro da propriedade, num trilho de beleza exuberante. Mais adiante uns quilómetros, no Miradouro da Cruz de Pedra, em Paranhos, conseguimos perceber que a propriedade mantém o cultivo das vinhas.

Continuando a subir pela estrada, passando por pequenos aglomerados de casas, entrecortados com campos agrícolas e matas, chegamos à Aldeia de Santa Cruz, onde nos surge o primeiro marco miliário (milha XIV). Estas grandes estruturas cilíndricas de pedra foram usadas pelos romanos para indicar as distâncias e também para deixar registada a marca de quem mandou construir a Geira, ou que nela procedeu a obras. A Via Romana XVIII (ou Via Nova), ligava duas importantes cidades do noroeste da Ibéria: Bracara Augusta (antiga capital da província da Galécia e do Reino Suevo – agora, Braga) a Asturica Augusta (antiga capital do Convento Asturicense - atual Astorga), num percurso de CCXV milhas romanas (cerca de 318 quilómetros). Considera-se que as obras foram concluídas por volta de 80 d.c. Esta fantástica obra de engenharia, permitiu reforçar a rede viária da região, conferindo maior mobilidade aos exércitos, proporcionando um reordenamento do território e possibilitando uma maior atividade mineira e transação de bens, sobretudo a circulação de ouro (Vale do Homem e Las Médulas). O génio da engenharia viária romana está bem patente no troço que percorremos até perto do Campo do Gerês. Na agreste Serra Amarela, os romanos construíram um caminho regular e estável, quase sem desnível, facilitando imenso a vida aos viajantes.

A pausa para almoço foi no parque de merendas da Capela de S. Sebastião da Geira (datada de 1687), local bem cuidado e limpo onde a frescura da água da fonte, a sombra das árvores e a quietude do local nos proporcionou o retemperar das forças (bem necessária!).

Continuamos o nosso caminho, usufruindo deste percurso de grande beleza natural, com surpreendentes panorâmicas de cortar a respiração, densos e frescos bosques, onde a água límpida e fresca corre livre por inúmeras rumorejantes quedas de água, trechos do caminho atravessados por ribeiros, ou mesmo transformados em ribeiros de água límpida mais ou menos profunda, com escorregadias pedras cobertas de musgos, trechos enlameados, outros cobertos de urzes, tojos, giestas e silvas rebeldes que dificultavam a passagem, árvores e ramos tombados, testemunhos do mau tempo recente…

Demos por terminada a jornada já perto do Campo do Gerês, cansados, mas felizes pela superação dos desafios e obstáculos do dia, enlevados pela beleza natural que se nos adentrou e que nos acompanhará até à próxima etapa que “É JÁ ALI…”.

 

(*) Erradamente denominada Antiga Fábrica de Real, esta propriedade foi uma casa agrícola.

Pertencendo a um caldelense emigrado no Brasil entre 1870 e 1886, é um claro exemplo de muitos dos denominados “brasileiros de torna-viagem”, portugueses que fizeram grandes fortunas pelas Terras de Vera-Cruz e que as aplicaram nas suas terras de origem.

Quando regressou do Brasil, dedicou-se a ampliar e dotar a casa de família, Casa de Real, de todas as comodidades possíveis à época. Construiu uma nova adega para a produção de vinho verde em grande escala. Encomendou a uma fábrica de vidro da Marinha Grande cubas de 200 litros totalmente em vidro, para armazenamento do vinho. Mecanizou totalmente a prensa da uva, dotando este espaço com um sistema de carris para facilitar a mobilização da matéria-prima. Com a morte do proprietário, a casa foi mudando de dono e, embora tendo havido diferentes ideias para dar um novo uso, nada foi realizado. (Informações retiradas da página de facebook “Galiza de cabo a rabo”)

Por agora, a enorme casa e adega encontram-se em ruinas, mas ainda emanam um esplendor e beleza cinematográfica. Rendidos a este magnetismo de épocas passadas, também nós idealizamos um novo uso: uma casa de repouso para os professores do SPZN. Fica a dica!

Cristina Garrido


Consulte as fotos:

2ª Etapa do Caminho da Geira e dos Arreeiros


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