12 Junho 2024
Ação Social e Cultural
Ciente da importância do exercício físico e da fé e espiritualidade na saúde e bem-estar dos nossos sócios, o SPZN deu início ao Caminho de Santiago-Finisterra-Muxia. A primeira jornada decorreu nos dias 25 e 26 de maio, entre Santiago de Compostela e As Moroñas, passando por Negreira. Saiba como se inscrever na próxima jornada, nos dias 29 e 30 de junho, AQUI.
Observe, através das palavras da caminheira Cristina Garrido e da fotogaleria (a seguir), o retrato desta etapa:
“No dia 25 de maio, partimos do Porto rumo a Santiago de Compostela, não como o final do Caminho, mas como o ponto de partida para o fim da terra conhecido na Idade Média (Finisterra) e o epílogo da rota em Muxia.
Iniciamos esta dupla jornada na Praza do Obradoiro de Santiago, rapidamente abandonando o ambiente urbano, acompanhados pelos carvalhos centenários e o rio Sarela, embrenhando-nos no bosque que foi subindo até nos oferecer uma magnífica vista da cidade, com a sua imponente catedral como que a desejar-nos “Bom Caminho!”.
Em breve, a chuva miudinha fez a sua aparição, tornando a paisagem mais escura e cinzenta, com o caminho a estender-se por aldeias e bosques. Foi notório o cuidado na manutenção dos caminhos, com pequenas alterações na rota, melhoramentos dos pisos e uma grande proliferação de marcos indicativos.
A pausa para o pic-nic de almoço aconteceu na Ventosa, num frondoso parque, que nos abrigou da chuvinha. Depois de um café quentinho, lá retomamos a marcha, ladeando a estrada e a povoação. A Ponte Romana de Augapesada marcou a viragem da paisagem: pequenos e antigos povoados, que entrecortam aqui e ali o bosque frondoso de Castiñeiro de Lobo, com o caminho sempre a subir e a subir … sempre na companhia da chuvinha miudinha.
Deixando para trás a subida, ao passar pela Aldea de Santa Maria de Trasmote, fomos atraídos pelas animadas melodias das gaitas de foles e dos bombos, emanadas do centro social. E, como onde há festa, há portugueses, lá fomos nós, simpáticos peregrinos intrusos… Esta foi uma animada pausa para dançar e molhar as gargantas!
Já retemperados e mais animados, seguimos caminho até uma povoação classificada como uma das mais belas de Espanha: Pontemaceira Velha, com a sua majestosa Ponte Românica, do século XV, sobre o Rio Tambre e os seus moinhos. Fomos arrebatados pelo plúmbeo do céu, pelos verdes das árvores e vegetação, pelo marulhar intenso das águas, facilmente transportados pela imaginação para outro tempo histórico. Não havia melhor cenário para o nosso Professor Manuel Araújo nos contextualizar a viagem de trasladação do Apóstolo Santiago, acompanhado pelos seus discípulos.
Depois de 21 Km, concluímos o primeiro dia desta jornada em Negreira, uma vila na margem do Rio Tambre. Antes de dar descanso ao corpo e já com o estômago aconchegado, fomos surpreendidos pela II Foliada Barcalesa, na Praza do Consello de Negreira, com a atuação de grupos musicais da comarca (gaita de foles, bombos e pandeiretas), comes e bebes e gente animada.
No dia 26, domingo pela manhã, já o nevoeiro havia levantado e o sol ia brilhando através das nuvens. Atravessamos o centro histórico de Negreira, onde se destaca o Pazo do Cotón (paço senhorial dos séculos XVII-XVIII, com possível origem numa fortaleza medieval, unido à Capela de San Mauro por meio de uma tripla arcada que cruza a estrada) e o seu mercado, assim como o impressionante Monumento ao Emigrante rodeado pela feira semanal. Logo saímos da urbe, seguindo parte da Ruta de los Tres Pazos, ladeando o rio de Barcala por um frondoso bosque. Saindo da rota, a paisagem vai gradualmente mudando, entre o caminho na beira da estrada junto de pequenas povoações, até novamente nos embrenharmos na floresta autóctone, parecendo mágica tal profusão das cores dos musgos, das plantas e flores, assim como a antiguidade das suas árvores.
Subindo até ao alto de A Pena, pudemos disfrutar da vista para os montes circundantes, numa pausa retemperadora. A partir daqui até Vilaserio foi “um saltinho”. O almoço foi muito agradável, no jardim de um simpático albergue, estendendo as pernas e as conversas… De bom agrado por lá ficaríamos, mas havia ainda muito caminho a fazer.
A partir daqui a paisagem foi-se alterando, dando lugar a extensos prados verdejantes, recortados por enormes faixas de terra negra, já arada. Esta paleta era pintalgada por manadas de vacas e modernas vacarias de grandes dimensões. Claro que se aproveitou para ver de perto estes magníficos animais, tendo a oportunidade de interagir com amorosos vitelos.
O destino da nossa jornada estava a chegar e As Maroñas recebeu-nos com sol numa bela esplanada, antes de regressarmos ao Porto.
Neste fim de semana fomos peregrinos, na sua definição de “aqueles que atravessam os campos”. Mas os campos também nos atravessaram, com as suas cores, aromas e sons… Seguimos para casa com a alma preenchida por todas as belezas que pudemos contemplar. De coração mais cheio, porém, mais leve… Na esperança de que nos nossos ouvidos ressoem, por muito tempo, o marulhar das águas, o restolhar das folhas ao vento e os sons melodiosos das aves que nos acompanharam nestes dois dias… Muito grata pela camaradagem e alegria dos companheiros, e já em contagem decrescente para a próxima etapa!”
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